O que o mercado imobiliário pode ensinar sobre resiliência?
O que o mercado imobiliário pode ensinar sobre resiliência?
A sensação é de que a festa terminou antes de começar. Iniciamos 2020 cheios de otimismo. Todas as previsões sinalizavam para uma única direção: o país vai deslanchar e os negócios vão prosperar. Até que, em março de 2020, fomos surpreendidos pela pandemia do coronavírus (Covid-19).
Um ano depois, nossa vida não é mais a mesma. Ainda temos mais perguntas do que respostas, mas estamos mais confiantes sobre como enfrentar a maior crise sanitária e econômica do século.
Desenvolvemos nossa capacidade de lidar com problemas e, a cada dia, buscamos a melhor maneira de adaptar-nos às mudanças, superar os obstáculos e resistir à pressão. Na vida e nos negócios.
O mercado imobiliário tem se mostrado um dos setores mais resilientes à pandemia do coronavírus. Não podemos prever o que virá, mas com certeza aprendemos valiosas lições para prosperar.
A primeira delas é não entrar em pânico. Em março de 2020, tivemos restrições mais fortes, em âmbito estadual e municipal. Havia dúvidas sobre o período que as medidas restritivas iriam vigorar, qual seria o comportamento do comprador e como as próprias empresas iriam lidar com esse novo momento. Isso perdurou por 60 dias.
A construção de um prédio é um ciclo longo, que depende de uma cadeia grande de fornecedores. No final, fomos enquadrados como atividade essencial. O setor teve de se adaptar às exigências (as sedes e o plantões de vendas não funcionariam da mesma maneira), mas mantivemos a produtividade.
Aprendemos que é importante ficar atento às oportunidades. A restrição da circulação fez com que as pessoas ficassem mais tempo em casa, trabalhando em home office, e elas começaram a refletir sobre a sua moradia atual.
Antes disso, muitos só utilizavam o imóvel para dormir, já que saíam cedo para trabalhar e só voltavam à noite. Hoje, as pessoas querem mais. Querem ter uma vista, um espaço para montar a estação de trabalho ou acompanhar os filhos nas atividades escolares.
Alguns já decidiram que precisam de um outro imóvel. Um lugar com mais um quatro, um banheiro ou numa localização melhor. Teve até quem saiu do apartamento para morar numa casa com quintal. As construtoras e incorporadoras estão atentas a esse movimento e os novos lançamentos já contemplam as novas exigências.
Outra lição importante: use a tecnologia a seu favor. Apesar da construção civil ter sido enquadrada como atividade essencial, os plantões de vendas precisaram ficar fechados em alguns momentos.
Mas o atendimento ao cliente não parou, ele ficou digital: tour virtual, vídeos, WhatsApp, chatbot, e-mail, chamadas de vídeos e videoconferência foram e são amplamente usados para apresentação do imóvel e agendamento de visita com hora marcada e todos os cuidados.
Acompanhar os indicadores também é importante para definir estratégias e metas. O cenário econômico tem ajudado o mercado imobiliário a ser resiliente na crise. Hoje, o que alimenta o setor é o crédito. E a taxa de juros para financiamento imobiliário é a menor da história do Brasil.
Isso permite que mais pessoas consigam comprar o imóvel. A redução de um ponto percentual da taxa de juros representa a entrada de 800 mil novas famílias no mercado imobiliário.
No último ano, quase quatro milhões de famílias tornaram-se elegíveis ao crédito. A capacidade de compra cresceu 30%, o que permitiu comprar um imóvel mais alinhado ao estilo de vida, preferências e necessidades dos moradores.
Independente do cenário, foque em resultados. Curitiba teve aumento de 20,7% nas vendas de apartamentos novos durante o 4º trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, totalizando 4.857 imóveis comercializados. Foram R$ 3,3 bilhões em negócios realizados.
Para absorver o crescimento da demanda imobiliária ante uma oferta bastante limitada (o estoque de apartamentos novos em Curitiba é o menor desde 2007), houve um reajuste de 8% no preço médio do metro quadrado privativo na cidade nos últimos 12 meses. O valor praticado no fim de 2020 chegou a R$ 8.705,00 por metro quadrado.
Ao mesmo tempo, houve o aumento no custo dos insumos em função da escassez de produtos no mercado, e esse é um desafio para os empreendedores: desenvolver projetos com custos maiores e que, ainda assim, caibam no bolso do comprador.
Enfrentar um desafio por vez. E, assim, saíremos mais fortes e com mais conhecimento para seguir em frente e inovar.
* Presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) e diretor de incorporação da Swell Construções, referência em edifícios de alto padrão e luxo em Curitiba.