ESG no mercado imobiliário: viável e imprescindível
ESG no mercado imobiliário: viável e imprescindível
As potencialidades e os desafios de ESG no mercado imobiliário mostram que a aplicação do conceito é viável e, mais que isso, imprescindível para construtoras e incorporadoras.
Em linhas gerais, essa é avaliação de dois especialistas no assunto, que participaram da sexta edição do Ademi Juris – webinar da Ademi-PR sobre a legislação do mercado imobiliário.
Justamente com o tema “ESG e mercado imobiliário”, o bate-papo reuniu a advogada Natalia Brotto, sócia do escritório Brotto Campelo Advogados e vice-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), e o diretor de expansão da We. Flow, Paulo Cruz Filho.
Os três pilares do ESG
A advogada explicou os três pilares que compõem o conceito ESG. Quais sejam, o pilar ambiental (“envirommental”), o social e o de governança.
Na avaliação de Natalia Brotto, o mercado imobiliário reúne um leque de atividades de amplos e duradouros impactos na sociedade. Dessa forma, as preocupação com os pilares de ESG devem fazer parte de todos os elos da cadeia. “O ciclo da construção civil é extremamente longo”, afirmou.
Em seguida, ela pontuou sobre esse ciclo e seus efeitos. “Desde a aquisição do terreno, passando pela obra, entrega de obra, comercialização das unidades, prazos de garantias (de pelo menos cinco anos), a gente tem um ciclo da construção de um determinado empreendimento imobiliário superior a dez anos”, assinalou.
Ou seja, continuou a jurista, resíduos gerados, volume desses resíduos, número de pessoas contratadas para as obras, fornecedores, interação com órgãos públicos, tudo isso se constitui em elementos cujos pilares da sustentabilidade ambiental, do social e da governança precisam de estar presentes.
Além disso, ressalvou Natalia Brotto, “mesmo após a entrega dos empreendimentos eles impactam por décadas e décadas, na vida de seus moradores e também da vizinhança como um todo”.
Mercado imobiliário: ESG e stakeholders
Diante desse cenário, ESG no mercado imobiliário deve ser preocupação prioritária, concordaram os dois debatedores.
Natalia Brotto e Paulo Cruz Filho lembraram que uma nova geração de consumidores e de gestores – pessoas hoje na faixa etária dos 20 a 35 anos – está cada vez mais consciente das responsabilidades que as empresas devem ter com o meio ambiente e com a sociedade.
Ademais, outros atores do mercado, como investidores e instituições de crédito, têm primado por preferir aportar recursos em empreendimentos alinhados a ESG.
Nesse sentido, Natalia Brotto citou exemplos de linhas de crédito dos maiores bancos brasileiros voltadas a projetos que respeitem os pilares de ESG. Ainda, normativas de instituições como Banco Central, Comissão Mobiliária de Valores e Superintendência de Seguros Privados (Susep) fomentando tais práticas.
Por sua vez, Paulo Cruz Filho sublinhou como empresas que adotam ESG se sobressaem no mercado. “ESG tem a ver com valores, sim. Mas também tem que ficar claro para o empresário que o ESG tem a ver com negócios: com padrão de consumo, com viabilidade de crédito, valor agregado do produto, com a possibilidade de eu captar determinados padrões de investimento.”
Cultura corporativa e ESG
Por outro lado, a incorporação de práticas de ESG deve vir acompanhada de uma consciência “genuína” da importância de valores ambientais, sociais e de governança.
Primeiro, entendendo que preocupações e soluções para o meio ambiente, o social e a governança devem começar internamente. Sobretudo, em todos as instâncias e escalões. “ESG não é algo externo, não é algo que outra pessoa vai resolver. E os donos da empresa têm de partilhar verdadeiramente desses valores.”
Natalia Brotto ilustrou com uma situação corriqueira. Aparentemente, até banal, mas que mostra incoerência entre difundir adotar ESG e, de fato, ser ESG. “É muito comum a gente ver empreendimentos com uma infinidade de selos ambientais. Porém, quando a gente faz uma visita à empresa, ao tomar um café, está lá um copinho de plástico. É preciso olhar para dentro de casa. É uma ressalva que a gente tem que fazer.”
O webinar pode ser conferido, na íntegra, nos canais da Ademi-PR no YouTube e no Spotify. O bate-papo é conduzido pelo diretor da Academia Ademi-PR e CEO da Reis Real Estate, Ricardo Reis.