Arquitetura e as pandemias
Arquitetura e as pandemias
“ A arquitetura do séc. XIX é como um sofá velho, pleno de Tuberculose… Há que se levantar as casas do solo, porque o solo é úmido e de onde nascem as enfermidades” Le Corbusier (1887-1965)
Com este pensamento de um dos maiores arquitetos e urbanistas da história, fundador da arquitetura modernista, ao lado de Alvar Aalto, Mies Van der Rohe, Lúcio Costa, Niemayer, onde é feita a constatação sobre a importância da funcionalidade que uma obra deve prever em relação às necessidades humanas, nos aspectos físicos, biológicos e emocionais, podemos refletir sobre o futuro da arquitetura pós Covid, que pode ser revisitando o passado.
Durante os surtos de tuberculose e gripe espanhola, foram observados que as condições de saúde daqueles que viviam em ambientes escuros, pouco ventilados e úmidos, eram piores do que aqueles que ocupavam ambientes ensolarados e ventilados. Com base nessas observações as construções começaram a se soltar do solo, através de colunas, que convencionou se chamar pilotis, grandes aberturas, que possibilitassem melhor insolação e renovação do ar, até escolas ao ar livre foram criadas para diminuir o contágio e aumentar a imunidade dos ocupantes dos espaços.
A arquitetura mostrou sua importância ao projetar hospitais como o de Veneza, em 1965 por Le Corbusier, com terraços-jardins para banho de sol, necessário para metabolizar a vitamina D em nosso organismo, além de outros benefícios. Os hospitais deixaram de ser ambientes funestos destinados a doentes terminais, para serem ambientes de cura, arejados, iluminados, revestimentos e mobiliário de fácil limpeza e deslocamento além de diversos outros itens enumerados na publicação “Notes on hospitals”, de 1859 pela britânica precursora da enfermagem moderna, Florence Nightingale.
Após um ano em regime de isolamento e restrição de deslocamentos, fica mais fácil entendermos o conceito de “Neuroarquitetura”, que analisa os estímulos que as sensações provocam na produção dos hormônios em nossos organismos, o aconchego de um raio de sol, de uma brisa, do contato com plantas e o ar livre. Acompanhamos que muitos que se recuperam da doença permanecem com mobilidade reduzida por longo tempo, impossibilitando o uso de escadas, banheiros estreitos, calçadas sem condições de segurança e acessibilidade.
Muito importante mencionar que calçadas são bens públicos e devem ser construídas e mantidas pelos órgãos públicos, segundo art. 113 da Lei Brasileira da Inclusão (13.146/15), em condições de uso pleno, com segurança e autonomia, por qualquer cidadão independente da condição física ou sensorial.
Espero que juntos possamos tornar nossas cidades mais humanizadas, saudáveis e acessíveis a todos.